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quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Chuva

Caminho silenciosa,
Entre a chuva que me fustiga
E o vento que me empurra.
Brinco com os meus passos,
Pedra sim, pedra não,
Saltito como em criança.
Esquecida dos anos que tenho
E da gente que me estranha.
O sol nunca me encantou.
Nem a praia me seduziu.
Gosto da cor do Outono,
Das folhas amareladas,
E do manto que elas tecem
No chão que a chuva encharca
E os meus passos espezinha.

Helena

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Natal

É no Natal que me sinto
mais frágil.
É no Natal que me fazes
mais falta.
É no Natal que relembro
os ausentes.
Foi no Natal que partiste
para sempre.
Foi no Natal que soube
quanto valias para mim.
Foi no Natal, há anos,
que me esqueci
do que era, afinal,
o Natal.
E que aprendi que, sem ti,
não há Natal!

Helena

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Fazer anos

Fazer anos
É sentir gratidão
Por tudo o que me deste,
Sabendo que te perdi.
É relembrar os bons tempos
Sentir as tuas mãos
E o teu corpo
No meu corpo.
É ter-te presente
Sabendo que estás ausente.
É ter-te sem te ter
Possuir-te sem te ver
Desfalecer por instantes
Acreditando num antes
Que para o bem ou para o mal
Nem sequer sei se foi real!

Helena

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Lembras-te?

Lembras-te?
Era um dia de inverno,
E tu não tiravas os olhos de mim
Eu, cheia de frio, aquecia-me em ti.
Bons tempos, esses,
Em que ambos nos desejávamos
E a vida parecia não ter fim.
Lembras-te?
Era uma Igreja velha,
Que todas as tardes nos acolhia
E onde os Santos velavam
Para que ninguém descobrisse
A paixão que nos consumia.
Lembras-te?
De certeza que não.
Se te lembrasses,
Já me terias pedido perdão...

Helena

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

As casas

Quantas casas eu já tive?
A grande casa da família
E a casa dos avós.
Depois da casa dos pais
Veio a casa de casada
E a casa de mulher só.
Quantas casas eu já tive?
Depois de ficar sozinha,
Tive a casa dos meus filhos
E também a dos meus netos.
Foram todas pouco minhas
Porque a casa verdadeira,
A que nunca abandonei
Foi a casa do Senhor.

Helena

É assim

Queria escrever-te cartas
Todos os dias.
Mostrar-me,
Desnudar-me,
Para que me conhecesses
Melhor.
Mas tu não gostas de cartas.
Só de gestos
De carícias
De beijos
Rápidos.
Sem saberes quem eu sou,
Ou como sou.
Tu tens pressa,
Eu não te interesso.
Tu não me vês
Nem me escutas,
Não sabes quem sou.
É assim que tu gostas
De mim!

Helena


Letras

Gosto de brincar com letras
E de construir palavras
que formam frases.
Depois, gosto de as misturar
E de criar outras palavras
Novas
Desconhecidas
E de brincar com elas
Em frases
que não fazem sentido.

Helena

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Vida breve

Era uma criança frágil
A quem a vida tudo devia.
Corpo débil, esfomeado,
Cabeça cheia de sonhos.
Os anos passaram por ela
Sem que deles se desse conta
Nas obrigações que cumpriu
Nos prazeres que não sentiu.
Hoje é uma velha cansada,
Que à vida nada deve.
E diariamente se pergunta
Por que foi tudo tão breve.

Helena

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

O fim!

Vinhas sereno, tranquilo
Para me dizer "acabou".
Eu nervosa, não percebi
Que já te havia perdido.
Foi uma luta desigual
Eu, debulhada em lágrimas,
Tu, frio, intelectual,
A explicares os meus erros
Passados e
As falhas mais recentes.
Eu, debulhada em lágrimas,
A tentar agarrar aquilo
Que já não era meu
Tu, frio, gelado
a dizeres... "morreu"!

Helena


quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Sobressalto

Acordo em sobressalto
procurando o teu lugar
nesta cama que foi nossa
neste quarto que nos guardou.
Acordo em sobressalto
esquecida do tempo que passou,
quando dizias que me amavas
e que o mundo era só eu.
Durou anos o nosso amor
e o fogo que o consumiu.
Um dia foste-te embora
Deixaste vago o teu lugar
que eu continuo a procurar
nesta cama que foi nossa
neste quarto, neste lugar!

Helena

Quantos mantos

Uns dias é o manto do silêncio
Que me cobre,
Outros, o manto da palavra
Que me descobre.
Contigo nunca sei qual usar
Para te prender e estar contigo.
Quantos mantos não usei já
Nesta vida de espera por ti.
Quantos mantos levantaste
Sem sequer olhar para mim?
Quantos mantos porei mais
Para que me olhes, enfim?

Helena

domingo, 4 de setembro de 2011

Imaginação

Gosto de te adivinhar,
De julgar que sei quem és.
Há anos que imagino
Como seria o nosso encontro.
Atávico no início,
Mas sublime no avanço.
Um passo, depois outro,
Mais outro ainda,
Até tocares a minha mão.
O choque da emoção
A descarga eléctrica
Do desejo contido,
Enfim liberto.
A respiração ofegante,
O odor, esse, mistura
Dos nossos corpos suados.
O teu, inerte, desliza
Para o meu lado, satisfeito.
O meu, ainda pulsante,
Mas saciado
Procura, devagar,
Anichar-se no teu.
Era assim que te via
Que nos via.
Na minha imaginação!

Helena

Vida banal

Vidas ao ritmo da palavra.
Dores ao ritmo do sofrimento.
Risos ao ritmo da alegria.
Amores ao ritmo da paixão,
Tudo sal e emoção,
Tudo dor e ambição.
Uma existência banal,
Uma vida sem igual!

Helena

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Só as mãos

Vi-te um dia,
Há muitos, muitos anos.
Não recordo, hoje, o teu rosto,
Mas lembro bem as tuas mãos.
Porquê? Não sei.
Foi sempre assim comigo,
No registo que faço
Das pessoas que conheço.
Para uns é o olhar,
Para outros a boca,
Ou até, quem sabe,
A forma de caminhar.
Para mim as mãos,
São a expressão da alma.
Fixo-as, lembro-as
Ao pormenor.
Por isso, quando ontem cruzaste
O meu caminho, nem te vi.
Mas quando, na mesa
As mãos colocaste,
Soube logo que eras tu
Quarenta anos depois,
Da data em que me deixaste.
Não sei ao que vinhas,
Decerto, apenas passaste
E paraste.
Mas as tuas mãos,
Essas, eu sei que vieram
Para que eu as tocasse.

Helena

sábado, 13 de agosto de 2011

Eu

Nunca soube bem quem sou.
Nem na luz da alegria,
Nem na sombra da tristeza.
Sei que a solidão me alumia,
E que os muros me não travam.
Por isso
Se me soltam tanto as palavras
À espera do eco que tragam,
Que me ensine um pouco mais
Do que sou
Ou daquilo que posso ser.
Sabem os outros
Mais de mim
Pelo que intuem,
Do que eu, pelo que sinto.
Estranha forma esta de existir,
De me tentar conhecer.
E de tecer o tecido
Que me envolve,
Me prende e me liberta.

Helena

terça-feira, 24 de maio de 2011

Filhos

Filhos são consequência
Do amor
Ou da imprevidência.
Filhos são fruto
Do encontro
Perene ou acidental,
Filhos são nossos
Tão pouco
Afinal!

Helena

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Como foi?

Vi-te ao longe,
Ias de mãos dadas com ela.
Mãos que um dia
Se entrelaçaram nas minhas.
Vi-te ao longe,
Tinhas um ar feliz,
Igual ao que tiveras comigo.
Como foi que te perdi,
Como foi que me perdi,
Sabendo que não consigo
Viver a vida sem ti?

Helena